- Não sei... talvez aqui?
- Não, é a primeira vez que venho a este bar. Moro na zona leste, sabe...
- Pois... não sei...
- A sua graça é?...
- Johnsonn.
- Ah! O senhor, por acaso, não toca clarinete?
- Não. Mas o meu avô tocava.
- Seu avô?
- Sim, meu avô, Johannes.
- Johannes? Johannes Schmidt? O que tocou com Kurt Weill e Bertolt Brecht?
- Sim, conheceu-o?
- Conheci-o no Rio de Janeiro. Você é igualzinho a ele. Daí a minha confusão. Sabe, a memória já atraiçoa a diacronia.
- ?!....
- Não ligue, coisas de velho... Permita que me apresente: Joe Doe?
- ?!...
- Eu sei, eu sei, mas é mais fácil de dizer que Jhussef Korowitczwinsky. Sou oriundo de uma família de judeus de Odessa
- Ah, bom...
- Que é feito do seu avô?
- Morreu.
- Morreu? Que pena ... há mais de cinquenta anos que ando à procura dele.
- Cinquenta anos?
- Sim, para lhe dar isto.
- Parece uma pauta.
- É, é uma pauta.
- Maxixe? Interessante. O senhor disse cinquenta anos? Onde é que se meteu o velho? Faz favor, viu para onde foi aquele senhor que estava aqui a falar comigo?
- Qual senhor?
- Um senhor assim ... já de idade...
- Não vi ninguém a falar consigo. Deseja beber mais alguma coisa?
(Segue a pauta do maxixe para clarinete em sib e clarinete baixo. Não consta a data, mas foi escrita entre 1938, ano que Johannes foi para o Brasil e 1940, ano em que o Café Vermelhinho acabou.)
(João Pimentel)
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