segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Auto de Antologia

Peça teatral
Titulo: Auto da Antologia.
Espaço cénico: o palco da junta de freguesia de Vermoim
Presença: Autoridades culturais da região.
Intervenientes no espetáculo: poetas, editores livreiros, como actores, cantores de côro e figurantes.
Figuras principais: uma mulher imponente, de sêda preta vestida, ornamentada com dourados, brincos pendentes azuis de turmalina e um colar simples de missangas e sapatos de salto alto.
O homem veste camisa e calças jeans da Levis Strauss ligeiramente puídas.
calça ténis 43 da Adidas.
Encenação da autoria de Victor F..Tons sóbrios, cor rôxa e muito anil reflexos num espaço com características mouriscas.
A escolha musical não foi consensual, pensou-se no Porto sentido, mas por maioria ficaram as 4 Estações de Vivaldi.
Portanto comecemos pelo principio, toda a gente trajando a rigor, parecendo cantar em côro acompanhando os acordes do concerto nº1 em Sol maior, floresce a "Primavera".Todos e cada um têm um livro de poesia na mão.
A interprete principal assoma-se ao proscénio e exclama num tom pungente:
Quem sois vós intruso, que tão mal trajado estais?
Senhora minha sou um caminheiro, que de Campanhã (estação) a pé vim para aqui chegar.
Como podeis verificar todos os que aqui estão, de marca assinalada é o seu trajar. Porque vos dirigis a mim com roupa tão vulgar e puída?
Senhora porque artista sou e este é o meu hábito de trabalho.
Mas para esta ocasião não é a mais apropriada.
E que ocasião esta é?
A divulgação de uma antologia de poesia.
Entretanto muda o tom musical e começa a surgir o "Verão" em Sol menor.
Eu talvez seja original mas penso com a cabeça minha e assim me apresento.
Bom homem posso saber o seu nome?
O meu nome é Scott Johnson, sou ninguém
Os presentes em côro começam a rir. AH Ah AH
O Gil Vicente já não mora aqui..
Isso não me afecta senhora. o que vos posso garantir é que
nenhuma muda farei e tão pouco em pelota ficarei.
Ligeiramente enrubescida a senhora disse: Começais a ser insolente, por acaso sabeis com quem estais a falar?
Com a Maria a Grande eu presumo.
A interlocutora vai-se abaixo das pernas e tenta agarrar-se a quem pode, que ao lado esteja, sem articular qualquer palavra.
Mudam os acordes do concerto nº 3 em Fá maior do "Outono".
Dramaticamente, qual diva a descer do palco ao estilo da Glória Swanson no Crepúsculo dos Deuses, com a côrte cantando em coro:"Afinal o homem é um mendigo ou um cavaleiro? cavalo não se lhe conhece e um cavaleiro não veste assim!" e suspensa dos seus gestos, vê a majestosa figura lançar-se de forma lancinante ao pescoço do caminheiro dizendo: Meu bom amigo.
Ele sustem-na no momento e apesar de estar a gostar desata-se um pouco do abraço, lentamente afasta-se num porte digno e teatral exclama: Fica entre os teus minha amada, na volta(no fim da festa) cá te espero.
O concerto nº4 em Fá menor do "Inverno"dá os últimos acordes em tom Allegro.
No Fim cai o pano.

(Victor Freitas)

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A esperança que resta

Quando vi o texto "A dor, bah! Que interessa a dor, a indispensável dor... Brindemos à vida, se ela deixar." que é quase uma criação da Filomena (já que uma tradução seria praticamente impossível), deu-me um aperto no coração, uma agonia no peito e um nó na garganta e, ao lembrar dos decassílabos que cantavam o Paraíso dos Cavalos, as fantasias religiosas “ Pedido da Virgem Maria” e “Maomé e os Cãezinhos” e de tantos outros textos naquele inglês que só ele… e que agora estariam perdidos, não aguentei. Desandei a chorar. A Isabel consolou-me. Choro vai, choro vem… Que parvos nós somos! …não está nada perdido. Se ele registou as obras… Corremos ao cofre do banco onde decidimos guardar os documentos do autor e o pouco que não foi extraviado. Doce e efémera ilusão. Estavam lá todos os papéis de registo devidamente preenchidos pelo amigo Francisco. Era só assinar, levar à entidade competente e pagar (com o dinheiro que o próprio Francisco deu), mas seria esperar muito do Scott Johnsonn.
O pouco que sobrou, registei-o eu e, agora, só resta esperar que ele se torne bem conhecido e que as pessoas que levaram por engano os seus originais, os devolvam.
Haja visto que traduzir seus textos é como passar Gil Vicente para o anglo-saxão e também porque nem sabemos se eles reaparecerão, pedimos a quem tomou conhecimento de suas obras que as reconte. Mais vale um pássaro na mão que uma esperança a voar.
Obrigado a todos.

Mané do Café