segunda-feira, 6 de julho de 2009

Bom Partido!

Já nessa altura Maria não era uma mulher qualquer. “Bom Partido” era uma ideia que surgia entre contas de somar, entre um débito de um credor ou um crédito de um caloteiro. Giro, mas caloteiro! Difícil era resistir-lhes, aos caloteiros, eram sempre giros! A creditar só tinham para o livro de contas, ao conceito de “ Bom Partido” traziam o vazio.
Levantavam-lhe a saia, viam-lhe as coxas. Ela sorria, sorria muitas vezes. Não que se excitasse mas a inveja que provocava na irmã casada e nova dava-lhe gozo. Aquele olhar que a fitava como se fosse uma qualquer enchia de energia a lida e a força. Não era à toa que se chamava Maria.
Desejo! Sentia por vezes desejo. Em algumas noites não podia ignorá-lo e tratava de culminar com as necessidades femininas que lhe surgiam. Maria de todo era uma Afrodite. Gostava demais de homens mas não tinha queda para “Bons Partidos”.
- “Ah … Ahhhh”… Eu Aguento.
Aguentava, umas vezes mais que outras.
Roliça, redondinha, seios que confundiam e afunilavam os olhares mais atrevidos, e outros tantos. O sorriso na face rosada, fazia-a mais menina, tinha origem em um copo e outro de vinho.
Quando encarnada de mãos na anca e a soltar a espontânea gargalhada, era certo… Já tinha ditado a sina dessa noite a uma visitante acompanhada por um charmoso com barba de nove semanas e meia. Essas barbas que contribuíam com meio crédito para a causa “ Para Maria um Bom Partido”. As senhoras com simpatia sorriam depois de ouvirem as alarvidades sexuais, vindas de Maria, acerca da compatibilidade matrimonial. Ela intitulava-se “ O Demónio”.
As bem-postas agarravam pelo braço o homem e saiam a acreditar que o desgraçado estava enfeitiçado e ia voltar nessa mesma noite para sucumbir aos prazeres da carne. A verdade é que, já secas, nem se masturbavam, restava-lhes uns quantos comprimidos de Prozac.
Maria não negava a raça das mulheres, a filha do Português, farta da sagaz inveja vinda do próprio sangue, regozijava-se a causar distúrbios a outras, dependendo sempre da qualidade dos “maridos”, ou da quantidade caso a sorte lhos desse a provar.
A porta do café fechava sempre à mesma hora. A hora que o relógio não marcava. A hora de sonhar.
Quando a lua brindava a soleira da porta, ela não resistia. O olhar erguia-se até à janela de umas águas furtadas. Janela com tabuinhas que escondiam velhas e gastas cortinas, com flores ridículas, que se moviam ao som de uma guitarra. Guitarra levada pelas mãos de um latino. Era sempre o latino, assim com sempre eram os caloteiros. Nem ela sabia o porquê mas ali ficava. Contentava-se com o som da guitarra visto no café nunca o ter visto pôr os pés.
O fulano, o gaiato, só podia ser isso o gajo, aparecia sempre com cerejas do Norte no “regaço”. Eram muitas as loiras, as nórdicas, as gajas, que ele passeava.
Era química, havia-lhe dito um amigo que para as bandas do frio já haverá estado. Os latinos e as loiras têm muita química.
Quanto à Física, dava-se ali entre a perna de uma portuguesa, boa de contas, que sonhava com um “Bom Partido”.
Maria com tudo e nada tinha um colo. Assim como qualquer mulher tem um colo e a cabeça cheia de sonhos.
Ali continuava noite após noite, hora em que lhe era permitido sonhar.

(Rita Moura Reis)

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